Estudo levantou a suspeita de que o excesso de trabalho como causador de estresse pode estar relacionado a um maior risco de AVC em jovens. Entre os motivos, destacam-se sedentarismo, pressão arterial elevada, diabetes, colesterol alto e obesidade, além do uso de cigarro e drogas ilícitas.
Atualmente, uma das principais causas de mortalidade e sequelas no Brasil, segundo o Ministério da Saúde, é o acidente vascular cerebral (AVC), conhecido popularmente por derrame cerebral. Estima-se que cerca de 100 mil pessoas por ano venham a óbito por conta da doença. Dados da Central Nacional de Informações do Registro Civil, mostram que brasileiros entre 20 e 59 anos representavam 17,2% dos óbitos por AVC em 2019, índice que subiu para 18,5% no ano passado e chega a 20% entre janeiro e outubro de 2021.
Mas, o que alerta muitos especialistas, a doença deixou de afetar com maior frequência idosos. Um novo estudo publicado na revista The Lancet revelou que o AVC está afetando cada vez mais pessoas jovens e pessoas de meia-idade. O estudo também levantou a suspeita de que o excesso de trabalho como causador de estresse pode estar relacionado a um maior risco de AVC em jovens.
De acordo com a neurocirurgiã, Danielle de Lara, que atua no Hospital Santa Isabel (Blumenau/SC), a doença ainda atinge grande parcela da população idosa mas tem aumentado também entre o público mais jovem. “Entre os motivos podemos destacar a exposição precoce a fatores de risco como sedentarismo, pressão arterial elevada, diabetes, colesterol alto e obesidade, além do uso de cigarro e drogas ilícitas”, alertou.
Sintomas e diagnósticos
Os sintomas do AVC em jovens não diferem muito de outras faixas etárias. “Os mais frequentes são a diminuição ou a perda súbita da força na face, braço ou perna de um lado do corpo; alteração súbita da sensibilidade, com sensação de formigamento na face, braço ou perna de um lado do corpo; alteração da fala, incluindo dificuldade para articular e para entender e dor de cabeça intensa”, informou a neurocirurgiã.
De acordo com a especialista o diagnóstico é obtido por meio de exames de imagem, como a tomografia e a ressonância magnética, que permitem identificar a área do cérebro afetada e o tipo do derrame cerebral. “Existem dois principais tipos de AVC, sendo o isquêmico, quando há parada do sangue que chega ao cérebro, provocado pela obstrução dos vasos sanguíneos e o hemorrágico, caracterizado por sangramento dentro do tecido cerebral”, ressaltou.
AVC e Coronavírus
O estudo divulgado pela revista médica The Lancet concluiu que entre as 600 mil pessoas acompanhadas durante o estudo, aquelas que trabalhavam mais de 55 horas por semana tinham uma chance 33% maior de ter AVC do que os que trabalhavam entre 35 e 40 horas semanais.
De acordo com a neurocirurgiã Danielle de Lara, esse resultado pode ser explicado de maneira multifatorial. “A sobrecarga de trabalho faz com que a pessoa se alimente mal, diminui a prática de exercícios físicos e a ter menos tempo para cuidar de sua saúde. Além disso, o estresse pode também aumentar a incidência de hipertensão e diabetes”.
A médica ainda alerta que com a pandemia do Covid-19, o home office foi uma opção optada por empresas e colaboradores para continuar as atividades profissionais. “Durante a pandemia de Coronavírus, muitos jovens optaram pelo home office e a confusão entre ambiente profissional e casa flexibilizou os limites entre expediente e folgam causando excesso de trabalho”.
Recentemente, médicos e cientistas identificaram que a infecção pelo novo Coronavírus pode acarretar em outros problemas além dos respiratórios. Após relatos de problemas neurológicos em pacientes com Covid-19, foram registrados diversos casos de pessoas com AVC e que também testaram positivo para o vírus. “Ainda há muitos estudos em andamento sobre esses casos, mas o Covid-19 está ligada a um aumento na formação de coágulos em artérias, além do risco de trombose e embolia pulmonar, tais coágulos podem atingir o cérebro, levando ao AVC”.
Sobre Danielle de Lara
Médica Neurocirurgiã em atividade na cidade de Blumenau (SC). Atua principalmente na área de cirurgia endoscópica endonasal e cirurgia de hipófise. Dois anos de Research Fellowship no departamento de “MinimallyInvasiveSkull Base Surgery” em “The Ohio StateUniversity MedicalCenter”, Ohio, EUA. Graduada em Medicina pela Universidade Regional de Blumenau. Possui formação em Neurocirurgia pelo serviço de Cirurgia Neurológica do Hospital Santa Isabel.