Doença pode ser controlada, mas é necessário aprender a lidar com a situação, além de contar com apoio profissional e de entes queridos
Atualmente, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 140 milhões de pessoas sofrem com o Transtorno Bipolar no mundo. Segundo dados da Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB), em território nacional, cerca de 4% da população brasileira é acometida pela doença. Porém, a desinformação representa um desafio enorme para quem enfrenta o transtorno. A falta de diagnóstico precoce e do tratamento correto são as principais causas de agravamento da doença – algo que pode levar ao quadro grave de depressão e suicídio.
Nas últimas semanas, o assunto entrou novamente em pauta devido à crise vivida pelo músico norte americano, Kanye West. O artista que já relatou ao público o seu caso, constantemente é protagonista de polêmicas relacionadas a doença. A mais recente precisou de intervenção de sua esposa para interná-lo e Kanye West segue em tratamento intensivo para controlar os efeitos da doença.
Marcelo Carleial Rodrigues, médico na área da Saúde Mental e Perícia Judicial, diz que o caso do rapper deve ser acompanhado de perto devido a toda pressão e julgamentos recebidos através da mídia e pessoas nas redes sociais. “O principal desafio que uma pessoa com Transtorno bipolar tem atualmente é a falta de entendimento da sociedade em geral. Muitas vezes o problema é visto como uma personalidade irritável, ‘sem noção’ ou agressiva que, frequentemente, apresenta comportamentos autodestrutivos, e que os levam a grandes arrependimentos após os períodos de excessos”, acrescenta.
O que é o Transtorno Bipolar?
Marcelo explica que o transtorno se diferencia em dois tipos principais: o Tipo I, que cursa com episódios de mania, e o Tipo II, em que os episódios de elevação do humor e/ou irritabilidade são mais sutis, designados de hipomania. “Trata-se de um transtorno que é frequentemente diagnosticado de forma errônea, como outra doença – depressão, ansiedade etc. Isso prejudica o prognóstico, perpetua incapacidades e contribui negativamente para a prevenção do suicídio, cuja ideação e execução são prevalentes nesta patologia. O diagnóstico preciso e precoce, bem como um tratamento adequado, são determinantes para uma melhor qualidade de vida do paciente”, diz.
Dr. Marcelo completa que o Transtorno bipolar é caracterizado por graves alterações do humor e que, ao contrário do que muitos pensam, aquela pessoa que alterna o humor várias vezes no mesmo dia provavelmente não é “bipolar”: “os portadores do transtorno apresentam fases em que o humor está irritável e/ou eufórico, com duração mínima de 4 dias, quando apresentam grande energia e fazem coisas totalmente impulsivas e imprudentes – gastos excessivos, comportamento desinibido ou agressivo, autoestima inflada, direção irresponsável, aumento do consumo de álcool, abuso de drogas, entre outros. Quando tais sintomas são mais leves, sem tanto prejuízo funcional, o episódio é chamado de hipomania, onde a pessoa pode inclusive ficar mais produtiva que o habitual. Porém, quando os sintomas são mais intensos, o episódio é chamado de mania, que tem duração mínima de 7 dias, cursando com grande comprometimento da funcionalidade, podendo inclusive apresentar psicose, com delírios, principalmente de grandeza, mas também ideação paranoide e até mesmo alucinações”.
E completa: “Sem o diagnóstico correto e tratamento adequado, tais fases costumam durar semanas a meses, e se alternam com episódios depressivos – que envolve a sensação profunda de tristeza, inutilidade, culpa, ruína, ideação suicida – estes que têm duração mínima de 2 semanas”.
O que fazer?
Ao identificar sinais do tipo, o primeiro passo deve ser buscar ajuda profissional. “Em muitos casos, o próprio indivíduo tem uma certa resistência e não percebe que está doente, especialmente na fase de subida do humor. Acabam procurando tratamento apenas quando apresentam um episódio depressivo mais grave, e esta é uma das explicações do porquê o diagnóstico preciso demora tantos anos a ser feito”. O médico ainda faz um alerta: “o uso de antidepressivos não está bem indicado no tratamento da Depressão Bipolar, podendo precipitar episódios de euforia e até mesmo predispor o suicídio. O tratamento adequado é realizado com estabilizadores do humor”, ele aponta.
Portanto, o melhor apoio pode vir da família ou dos amigos que percebam essas oscilações do humor. No caso de crianças e adolescentes, os pais podem identificar esses sintomas e, caso tenham qualquer suspeita, o ideal é buscar a Psiquiatria infantil para melhor avaliação. Dr. Marcelo aponta: “aqueles que abandonam cursos e projetos no meio do caminho, que se colocam em situações de risco com certa frequência; que têm na família casos de suicídio, alcoolismo, internações psiquiátricas ou mesmo familiares diagnosticados com o transtorno ou Esquizofrenia, devem ser rastreados”.
Além disso, mesmo que não tenha alguém próximo com o problema, Dr. Marcelo defende que é necessário a conscientização da sociedade para lidar com pessoas que passam pelo problema. E termina com uma boa notícia: “É preciso entender que de fato essa é uma doença sem cura, mas que, com o diagnóstico bem feito e um tratamento adequado, o indivíduo poderá ter uma vida normal e vir a ser totalmente funcional, resgatando a autoestima, a vida financeira, a carreira, os relacionamentos e tudo o mais que tiver sido afetado pela doença”.
Fonte: Marcelo Carleial Rodrigues, Graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina e Cirurgia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNI-RIO). Pós-Graduação em Perícia Médica pela Fundação Unimed. Pós-Graduação em Avaliação do Dano Corporal Pós-Traumático pela Universidade de Coimbra. Pós-Graduação em Psiquiatria pela CENBRAP/FUNORTE. Criador da cápsula de cafeína NAPalm.
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